Nascido em São Pualo mas viveu em uma colônia alemã em Indiana/SP, sua família é alemã. Passou por várias regiões até ir para Goiás, lá viveu boa parte da infância até se mudar para São Paulo em busca de emprego. Trabalhando na industria por intermédio de sua mãe encontra Elfriede e formam a Orquestra de Bandolins. Após casar-se vira vice presidente da Lyra por intermédio da mãe de um amigo. Hoje é presidente da Lyra.
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Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Núcleo de Pesquisa Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias
Depoimento de Helmuth Stapf
São Paulo, 05 de setembro de 2013
Local: Sociedade Filarmônica Lyra
Pesquisador: Alberto Iszlaji Junior
Equipe técnica: Felipe Misquini
Transcitores: Paulo Nunes e Izomar Lemos
A gente vai começar aqui a entrevista com o senhor Helmuth Stapf, e é sobre o projeto associações alemãs em São Paulo meios e mediações na comunidade de cultura Alemã pesquisador sou eu o Alberto, operador de câmera é o Felipe e a gente tá {está} gravando hoje, dia 5 de setembro de 2013 na Sociedade Filarmônica Lyra.
Pergunta:
É... Senhor Helmuth, eu gostaria que o senhor, por favor, de começo, é... dissesse é, o seu nome completo prá ir soletrando as letras e também contasse um pouquinho da sua... De como o senhor nasceu, onde o senhor nasceu como é, como é que foi a sua infância?
Resposta:
Bom, meu nome é, como já foi dito, Helmuth Stapf, H,E,L M,U,T H, e o sobrenome S,T,A,P,F, bem simples. E, eu, na verdade sou de origem alemã meus pais, meu pai imigrou para o Brasil em 1920 com a idade de 19 anos pra 20 anos, e minha mãe imigrou também para o Brasil com 13 anos, em 1919. Não se conheciam e chegando no Brasil naquela época eles já compravam as terras na Alemanha. Que na verdade minha mãe... os seus..., Meu pai era da Alemanha especificamente, era da Baviera, já a minha mãe vinha da Romênia e a família toda, depois da primeira guerra mundial,eles foram praticamente expulsos de lá, aí emigraram para Alemanha, da Romênia. Mas como tinha uma inflação violenta na Alemanha naquela época, então meu avô ficou com medo e acabou indo para o... Alguém ofereceu terras pra ele, no Brasil, ele então, comprou terras lá.Isso que era confiança! Comprou terras no Brasil, ele não sabia nem onde ficavam as terras!! E com o último dinheirinho que sobrou porque a inflação comeu tudo! Eles pegaram o navio e vieram para o Brasil! Eles, com exceção do meu tio mais velho, que estava estudando numa universidade em Stutgard os outros ainda estavam... Eram mais novos, inclusive minha mãe. Eles ainda estavam em casa, mas ele veio com os seis filhos para o Brasil. E... Eles tinham uma situação muito, muito, confortável lá na Romênia eles tinham propriedades: casas, empregados e tudo mais. Então, ele era dono de umas propriedades muito grandes, era bem conceituado, mas com a guerra se perdeu tudo. E chegando aqui eles foram, ficaram primeiro, chegaram em Santos... De Santos foram onde hoje o memorial do imigrante, lá minha mãe ficou também algumas semanas e até pegar o trem e aí foram até Bauru e naquele tempo já existia esse trem até Araçatuba dizer, melhor dizendo, e em Araçatuba, eles desceram do trem e aí foram 100 km andando dentro da mata,era só uma picada até chegarem lá onde, disseram era uma colônia.uma colônia que alguém vendeu essas terras na Alemanha , então tinham muitas famílias chegando , se encontrando lá, mas eram tudo famílias alemãs. Aí lá nessa, tal de colônia existia um galpão grande, onde eles chegavam, os imigrantes chegavam, e eram colocados dentro desses galpões para depois então conhecer suas terras e tinham que se virar sozinho lá. Não tinha, não tinha mais, era só esse galpão não tinha mais nada, nem igreja. Era no meio do mato, fizeram uma clareira lá, que começavam as coisas. Daí foram até, no outro dia, ou alguns dias depois levaram eles no local onde seria a terra deles. Eles foram conhecer as terras deles era tudo mata fechada mesmo, não tinha uma clareira, não tinha nada. Aí... Bom isso aqui é de vocês agora, né. Então tava {estava} demarcado em de algum lugar (5´) e lá então derrubaram algumas árvores e fizeram um negócio, um rancho lá, alguma coisinha prá se enfiar debaixo. Depois meu avô e os filhos dele começaram a derrubar o mato prá limpar, pra {para} limpar, mas sem conhecimento nenhum da, das condições do Brasil. Que lá onde eles moravam, é na Romênia, era tudo, tudo planície e se plantava muita, muito trigo já nessa época, aqui não tinha nada era meio da floresta, brasileira ainda, virgem! Totalmente virgem. E lá eles tiveram que começar. Foi um começo muito difícil, eles não conheciam, não tinham as ferramentas certas, a comida logo acabou. E ai tiveram que se virar com palmito, e peixe e por aí afora porque... E quando plantaram também a primeira roça de milho, assim que ela começou a dar milho vieram um milhão de papagaios e comeram tudo [risos]. E por aí foi, muito difícil. Bom enfim, daí mais tarde a colônia foi crescendo e ela conheceu meu pai. Que também foi um dos que compraram naquela região. E, namoraram e coisa assim de seis anos depois que estavam aí eles casaram e, e minha mãe, minha sóg, minha vó no dia do casamento ela começou dar cólica de, da, da, como que chama? Não é o rim não é aquilo assim que se tem do lado é uma cólica da qual ela morreu. Doze de dias depois ela morreu. Não tinha médico, tinha nada, tinha que... Vesícula, pedra na vesícula, não tinha, não tinha quem ajudava, hoje em dia é brincadeira, ninguém morre disso, mas, ela morreu disso. Ela morreu disso, morreu com 49 anos. E bom, eles casaram, tiveram seus filhos a luta tudo mais também na roça, foi sempre na roça. Depois mudaram pra {para}, 1935 mudaram para perto de Presidente Prudente, outra colônia Alemã lá também, assim começando e em 1938 eu já tinha, eu era, eu sou o mais novo dos homens em casa que depois de mim tinha uma menina ainda, ã tinha meu irmão estava em São Paulo, em tratamento no Hospital Alemão que hoje é o Hospital Santa Catarina. Ele tinha ferida, chamava-se ferida brava. No interior se chamava ferida brava. Que eu acho que não é mais do que leptospirose, alguma coisa assim, é uma coisa que dá no mato. É uma ferida que não cura. Que não tinha como curar naquele tempo hoje em dia se cura. Não tinha penicilina, não tinha nada nessa época. E ele ficou seis meses aqui no hospital, ele tinha dez anos, que minha mãe tinha trazido ele no ano anterior ai ela veio, acho, pra {para} buscar ele e estava grávida, e eu acabei nascendo aqui em São Paulo, foi por acidente também. Ai eu nasci, no hospital que é não existe mais, na Frei Caneca, lá na, na Maternidade São Paulo, Paulista lá, como é que chamava aquilo. E depois de 23 dias e ela teve, ela ficou muito doente com, com, com o parto tal, perdeu muito sangue tal, e ai não tinha leite e quando foi, 23 dias depois ela voltou para o interior, voltou pra casa, mas não tínhamos, ela não tinha a... leite ai a sociedade beneficiente {beneficente} alemã, que hoje existe ainda na, pertinho, no comecinho da Raposo Tavares, eles pagaram, não tinha nem leite nem dinheiro pra viajar, eles pagaram a passagem dela e deram um, uma latinha de leite em pó, que tinha saído naquela época, para o nenê. Aquilo lá é um, uma mamada e acabou. E disse que então eu só chorava também, só chorava e ela... E o trem levava 24 horas, naquele tempo, de São Paulo até lá, que era aquele trenzinho da Sorocabana, tal, tal. E até Indiana, porque de Indiana tinha que andar ainda, com uma jardineira, mais uns vinte quilômetros depois, seis quilômetros a cavalo até chegar lá onde nós morávamos. E meu pai foi buscar ela tava {estava}, tava {estava} esquelética também e a criança só chorando, com fome, porque não tinha o que comer!(10’) Ai, chegou em casa meu pai, é, não tinha também em casa. Não tinha nada, não tinha leite, não tinha vaca, não tinha nada. Meu pai foi arrumar uma vaca, ele escutou de uma vaca, não sei quem informou ele que tinha uma vaca pra {para} ele adquirir. Mas era longe, era {eram} cinqüenta quilômetros, ele tinha que andar cinqüenta quilômetros e trazer a vaca nas costas, [risos] cinqüenta quilômetros, [risos]. E veio com a vaquinha. Não sei quantos dias ele levou. Diz que lá em casa eu tava só definhando, né? Dava leite, dava água com farinha. Alguma coisa, mas não cê {você} sustenta uma criança assim, não é por aí. E, daí quando trouxe a vaca, tiraram o leite, deram pra {para} eu mamar ai dormi três dias sem parar, também [risos]. Por isso que a gente fala hoje em dia a criançada, tudo, come estrugeno _______, quando tiver que sobreviver tem que, sobrevive sim. Bom, vivemos muito tempo lá até a idade de seis anos. A escola que tinha era só uma escola alemã. Era meus, meu avô que dava aula. Em casa né? Escola brasileira não tinha eu já tava {estava} na idade de ser alfabetizado também, eu fui nessa escolinha com meu avô, uma ou duas vezes, não sei quantas vezes, e daí estourou a guerra eu nasci em 38 e quarenta e dois e quarenta e quatro o Brasil já tava em guerra com a Alemanha ai o governo foi lá e fecho {fechou} todas as escolas, fechou, tirou todo o material do meu avô num podia mais da aula, que ele dava em alemão, era o que ele sabia! Aí fecharam a escola, mas também não fizeram escola brasileira, quer dizer, era, era o sistema, então é pra {para} nascer ignorante mesmo. E meu pai queria dar escola pros (para os) filhos, então ele mudou para um patrimônio perto, que chama Caiabú. É uma cidadezinha também muito ____________ chamava até Santo Antonio, depois passou a chamar Caiabú. Ela tinha umas cinqüenta casas só, oitenta casas, e lá ele ficou, ficamos dois anos lá ele abriu uma sorveteria, mas não tinha luz elétrica, não tinha nada era tudo a base de um motor, de um caminhão pra {para} tocar a tal da sorveteria, fazia o sorvete, depois desligava. O sorvete derretia de novo e, era em mil novecentos e quarenta e oito eu já tinha dez anos. Ai ele escutou falar que em Goiás o governo tava {estava} dando terras gratuitamente. De acordo com os filhos que tinha, como ele tinha seis filhos falou: ‘Bom então vou ganhar muita terra né?’ Ele não falava bem o português, e ele foi para Goiás. Ele foi pra {para} Goiás e voltou todo entusiasmado porque, ele era do mato. Ele não queria saber de cidade, nem coisa nenhuma. Ele chegou em Goiás, tinha muito mato ainda. Ele ficou feliz da vida, falou: ‘ vamo {vamos} pra {para} lá porque lá nós vamos ter que ganhar terra e eu vou trabalhar na roça de novo e tal, e tal, pra {para} poder sustentar a família, né?’ E foi muito difícil essa fase ai. Ai, tá bom, então vamo {vamos} embora! Mas nesse ínterim minha mãe teve câncer, né? No útero. E veio pra {para} São Paulo e foi operada em São Paulo, né? Removeram tudo. Isso em l948, olha como é que já tinha solução né? Operaram e ela voltou, dois meses depois ela tava indo pra Goiás. É inexplicável, por que meu pai também não parou pra pensar; uma mulher que tinha se acabado de operar, põe num caminhãozinho e vamo {vamos} que vamo {vamos} né? Ficamos doze dias na estrada, porque não tinha asfalto, aliás, nessa idade foi a primeira vez que eu vi luz elétrica. Não conhecia luz elétrica. Não conhecia sapato! Nunca tinha posto um sapato no pé, também. E, a primeira luz elétrica que eu vi, foi em São José do Rio Preto. Porque a gente passou por lá, pelos, pelo interior e uma noite o caminhão encostou num lugar pra {para} gente dormir. Á noite o caminhão parava, puxava uma lona e dormia lá. Minha mãe cozinhava algumas coisas, ajuntava umas pedras fazia uma fogueirinha lá e cozinhava, e a gente via um monte de luzinhas assim, achamos que era uma roça queimando, porque a única luz que eu conhecia assim de noite era de fogueira! Mas, era, era luzes da cidade e era muito fraquinha, não é como hoje. Tudo aquela luzinha pequenininha, ai no outro dia quando levantamos que vimos que era uma cidade! Então lá tinha luz elétrica. Foi a primeira vez que eu vi. Já tinha nove anos quase fazendo dez. E, enfim levamos doze dias pra chegar lá em, chegamos em Anápolis, que todo mundo hoje em dia já ouviu falar de Anápolis, naquele tempo também era só um povoadinho. Depois de Anápolis tinha mais, cento e... quarenta quilômetros até Ceres,(15’02”) onde meu pai achava que ia ganhar terra né? [suspiro]Era tudo estrada de terra, cê {você} imagina! Cê {você} andando nesses estradão tudo ai terra né? É que era agosto, e é seca, então o carro, o caminhão passava balançando, tal, mas “vamo” {vamos} que “vamo” {vamos} . A mudança era ridícula porque não era caminhão grande como cê {você} pensa hoje, com baú, tinha lá umas cama com os colchão de palha de milho que é o que a gente tinha, não tinha outra coisa. Era um armário só, de cozinha que meu avô ainda fez, e acabou! Não tinha fogão, não tinha geladeira, não tinha nada disso aí entende? Ai chegou em... nesse local que hoje é Ceres, chama Ceres, é, no mapa se eu achasse vai tê (ter) Ceres e passa o rio, o rio das Almas, de um lado é Ceres, do outro é Rialma. Rialma já existia, que era o fim de linha e Rialma era um povoadinho também bem pequetitinho aí você atravessava o rio em cima de uma ponte de tambores. Eles amarravam os tambores e puseram tábua em cima e você atravessava o outro lado e lá ia ser construída uma cidade, essa cidade ia ser chamada Ceres e foi construída que tanto é ela existe hoje. Ceres existe hoje. E lá é que tavam {estavam} dando terras!! E meu pai foi nessa. Só que ele não prestou atenção. Ai quando ele foi falar com o administrador que era o Bernardo Saião. Bernardo Saião era o que morreu depois na Belém - Brasília no acidente de, caiu uma árvore na cabeça dele, é o que contam, mas quem comeu ele, foram os índios mesmo. E, o Bernardo Saião foi um grande colaborador do Juscelino Kubitschek depois né? É o que fez a estrada Belém-Brasília, desbravou todo aquele negócio. E ele era o administrador dessa colônia, ele tinha que levantar uma colônia. Meu pai foi falar com ele, aí que explicou: ‘Não se ocê {você} tem seis filhos cê {você} vai ganhar seiscentos metros quadrados.’ [Risos!!]. Que eles queriam construir a cidade, não tavam {estavam} interessados em no interior. Eles tinham que montar uma cidade lá. Uma colônia. Foi uma desilusão muito grande que meu pai falou: ‘O que eu vou fazer com seiscentos metros?’ Ah, e tinha seis meses pra {para} construir uma casa. Meu pai não tinha dinheiro. ‘E o que é que vou fazer o que? E o que eu vou fazer na cidade que eu to {estou} vindo da roça?’ Ai, com muito esforço ele conseguiu uma, não sei exatamente como ele conseguiu, ao longo do rio, rio, rio das almas, uns quatro quilômetros mais pra {para} frente, tinha um mineiro que morava lá, que aqui era tudo floresta, só tinha aberto só uma clareira e lá tava {estava} cheio de barracas de, de, mas não era essas barracas bonitas que nem hoje, era só de trapo! Um pano assim e os nego morando. E era que nem um Eldorado, que cê {você} tá {está} procurando, e, levantar uma cidade. Então vinha, era prostituta, aventureiro, bandido e tudo mais. Era, tinha de tudo lá. Prá {para} nós crianças, aquilo foi sensacional que todo mundo usava um punhal, aqui, aqui atrás, assim. Era, era o costume de punhal, fora os que andavam de revolver. É, é, era a coisa que tava {estava} sendo montada. Prá {para} nós crianças foi sensacional. Bom, nós, num, num conhecíamos cinema, também. Não sabia nada do Faroeste mas tava {estava} se divertindo. Eu lembro muito bem, o motorista do caminhão ficou com tanto medo [risos!!], ele descarregou nossa mudança e [som de estalo de dedos]foi embora. Voltou prá (para) trás, não tinha nem parou prá (para) beber água né? E, das crianças eu sei que nós, eu e meus irmãos corremos por lá quando voltamos minha mãe tava {estava} sentada em cima duma {de uma} árvore que tinha caído, tinham derrubado lá, e estava chorando, e eu num _____________: Mãe por que cê {você} ta chorando né? _______________. Uma aventura pra {para} gente. Hoje eu sei por que ela chorava, ela dizia: ‘Quê {o quê} que eu tô {estou} fazendo aqui né?’ [risos] Uma mulher doente, tinha acabado de operar, vem com os seis filhos, não sabe aonde que vai ficar, né? No meio daquela (não entendi) cê {você} imagina a situação dela. Hoje a gente até entende como criança, não via nada disso né? Bom, enfim ela... Meu pai comprou aquele sitiozinho lá, era também tudo mata fechada, só tinha um ranchinho. E, aí nós mudamos pra {para} lá também não foi tão fácil porque o cara que vendeu falou: “Eu vendo, mas não saio!” Ele não ia sair não [risos]. Ai, é uma outra história, mas com o tempo saiu, enquanto isso a gente morava debaixo de uma lona, deitado no chão lá. Ai vinha tudo, (20’) largatixa, cobra, escorpião, tinha de tudo lá. A gente tinha um bom anjo da guarda, então nunca aconteceu nada, né?. E, esses quatro quilômetros, era quatro quilômetros até o centro da cidade. No começo eu fui na escola lá mesmo, montaram uma escolinha lá pertinho assim, e era só, era assim só coberto com folhas e dentro tinha só ta, só tabua em cima e uma tábua em baixo. Não tinha primeira, segunda, terceira, juntava tudo lá e a professora ia explicando alguma coisa pra {para} aprender ler, ler e escrever. Então essa foi minha primeira escola mesmo que, efetivamente que iam me ensinar alguma coisa. Eu já tinha quase dez anos, imagina, né? E, não era totalmente analfabeto por que aqui no interior de São Paulo eu fiz um ano também, aprendi um pouquinho de leitura, escrever o beabá, alguma coisa. Depois eu fui lá prá {para} a cidadezinha, nessa cidade tava {estava}, começou criar, montaram uma escola na beira do rio, e eu ia lá nessa escola, tinha que andar quatro quilômetros e voltar quatro quilômetros, beirando o rio. Tinha, era muito interessante, porque do outro lado essa tal de Rialma, porque não tinha rádio nem televisão, mas tinha um serviço de alto-falante, né? Então meio dia, ou sei lá que hora, eles ligavam o alto-falante lá e ela fazia a propaganda das três lojas que tinha lá e tocava música entre outras, acho que tinham dois discos, um deles era do Tônico e Tinoco. E, tem uma música até hoje que eu tenho na cabeça ainda, que nem o Tônico e Tinoco não sabia mais no final da vida deles que eles tocaram essa música um dia. Mas lá eu escutava, no mínimo, uma seis vezes à tarde né? Eles não tinha muito disco também [risos]. Tocava aquela, aquele disco sempre, e lá nós passamos, ficamos lá também dois anos e meio, nessa, nesse lugar, quase três anos. Ai pegou malária, todo mundo pegou malária, por que era um lugar muito, totalmente na beira do rio com lagoas e tudo mais lá perto. E todo mundo ficou doente e minha mãe tinha que vir pra {para} São Paulo quase uma vez por ano pra {para} fazer radioterapia, que depois da operação tinha que fazer radioterapia, e ela então vinha pra {para} São Paulo meu pai acompanhava, a gente, o pouco que ele produzia, talvez um feijão, um milho alguma coisa que ele plantava lá, quando vendia o dinheiro ia tudo prá {para} essa viagem, que era três dias de viagem de trem né? Que trem tinha até Anápolis. Então tinha que ir até Anápolis de jardineira e de Anápolis pegava o trem. Mas era três dias, cê {você} ia pra {para} Araguarí, Araguarí dormia. Depois vinha até, Araguari descia até Ribeirão Preto, Campinas fazia baldeação e depois vinha prá {para} São Paulo. Era tudo Maria Fumaça, parando tal, foi bem, era bem, bem difícil. Depois de três anos a gente, é, todo mundo doente, com malaria, tudo mais meu pai resolveu, os meus irmãos foram saindo eram mais velhos, entravam no exército, e, e os outros, aaaa, ele falou, tavam {estavam} fazendo exercito em Anápolis, ai falou: ‘bom.’ Ai, já arrumou emprego lá também né? De ajudante lá na obra, né? Já ficou por lá, depois o outro irmão também foi, eu sei que foi, a minha irmã que era mais nova, ficou na casa de uma família de uma cidadezinha, por que não tinha como ficar lá no sítio e aí ficava meu irmão e eu só nesse,nesse, quando meus pais vinham para São Paulo ficava só nois {nós} dois lá no sítio. E, de manhã cedinho nós não tínhamos quase nada para comer era peixe e banana! E farinha de mandioca! É o que a gente tinha! Nunca passei fome a gente sempre comia, não tinha café, não tinha leite, não tinha nada. E café, a gente desco... descobriu um, meu irmão descobriu uma plantinha no meio do mato que torrando ela ficava pretinha, e moía ela na maquininha, passava na água, tinha gosto de tudo menos café mas era preto e então tomava aquele negócio lá. Nossa!! (24’32”)
Pergunta:
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Resposta:
Não sei até hoje o nome dessa planta. Meu irmão sabia, mas faleceu ano passado. Olha, se eu estiver demorando demais também, você corta, ta? Aí, de manhã cedinho quando eu ia pra escola ele fazia um cesto com verduras, a gente plantava verduras eu ia pra, até cidade, vendia essas verduras antes de entrar na aula, que era 8 horas (25’) e era o dinherinho que a gente tinha, pra {para} comprar alguma coisinha, comprar um sal, alguma coisa assim. Porque açúcar também a gente não comprava, era só rapadura que fazia na vizinhança lá. E peixe tinha bastante, nesse rio das Almas, tinha muito peixe então a gente comia muito peixe.[risos]. E tem até uma passagem curiosa porque eu, a gente não sabia o que que era medo. E eu levantava, eu não tinha relógio em casa, não tinha nada, meu irmão me acordava eu levantava comia lá minha banana, não sei o que, a farinha, pegava as coisas da escola, a cesta e ia embora. Eu saía do sítio e tinha que andar 500 metros até na estrada principal e depois tinha os 4 quilômetros berando o rio assim... mas ocê {você} nem via o rio , as vezes via as vezes tinha o mato no meio até a cidade. Aí, aquele dia ele me chamou, levantei porque ele se orientava pelo galo, por estrela , e ta {está} na hora, ta na hora de levantar e vamo {vamos} que vamo{vamos}. Aí eu cheguei lá embaixo na estradinha e tava {estava} escuro, geralmente quando chegava lá já tava claro mas eu continuei no escuro, e continuei e mais ou menos uns 2 quilômetros depois tinha um baixadão assim muito brabo e tava escuro ainda e começou clarear, aquela hora começou clarear! Quando eu cheguei lá embaixo, bem na ponta mais inferior tinha um topi assim que ocê {você} passava mas em cima era fechado de mata, era o tal do espera um pouco, chamava assim, era unha de gato, fechava era um tipo de um túnel assim verde que cê {você} passava no meio. No lado escutava o rio. O rio fazia muito barulho, tinha muita pedra. Fazia bem!Escutava o barulho do rio, Mas também era só, não tinha medo nenhum!! Lá embaixo, naquela passagem, lá do lado lá, entre a estradinha e o rio tinha um barraco lá, dum velho, com a filha , a filha tinha 13 anos só que ela era louca. E quando a gente, quando eu voltava da escola ela ficava na frente do barraco dela e fazia um monte de coisa, assim não conversava era totalmente transtornada. E eu passei lá , quando eu levantei os olhos pra frente assim em cima do topi tinha um vulto! Preto! Cachorro!! Pra mim era um cachorro que tava {estava} lá! Porque começou a clarear e contra o céu azul, cê {você} vê aquele vulto lá. Aí eu parei, que eu saiba não tinha cachorro naquela redondeza, aí eu peguei olhei pra traz, coisa, quando você começa a ter medo, eu não sabia o que era medo, eu nunca não tinha medo, não existia. Olhei pra traz nada, olhei pra frente e não tinha mais vulto nenhum. Aí eu fui embora, fui pra escola, chegou lá meu irmão tinha errado a hora, tinha acordado uma hora mais cedo mais ou menos então eu esperei uma hora lá vendi minha verdura e voltei. Quando voltei na hora do almoço que eu passei naquele lugar, tinha uma aglomeração de pessoas e tinha um policial, nas cidade só tinha um policial, e o policial também tava lá. Claro que moleque cê {você} entra no meio pra saber o que que ta {está} acontecendo. Nessa hora o velho tava contando que foi ele que matou a menina. Aí daqui, dali, a menina, alguém achou ela , um quilometro abaixo, engastalhada, num meio duns galhos do rio ela tava morta . Eles tiraram ela, tinha sido morta a machadada Aí foram lá e apertaram o velho, o velho fez aquele escândalo primeiro que não era ele, que não era ele. Depois ele acabou confessando que era, foi ele que matou, porque ele engravidou ela e ficou com medo e acabou matando ela, de machadada aquele dia as 6 horas da manhã. Na hora que eu tava em frente lá.[risos] Se ele me via, me matava também![Bateu palmas] Eu não sou espírita nem nada, mas eu falei um dia isso com uma espírita, porque, qual é o motivo deu ver aquele vulto lá na frente? Daí ela falou, não aquilo lá foi Ogun, alguns desses entidades que tava te protegendo. Eu não duvido nada! Sabe tem coisas que acontece na vida! Tantas, tantas coisas já me aconteceram, essa foi uma das inúmeras. Bão,{bom} não, enfim passou... Nós fomos prá {para} Anápolis, aí passamos lá em Anápolis, e aí eu continuei(30’) os estudos lá em Anápolis. Eu passei pouco tempo estudando em Anápolis porque, eu entrei num colégio de freiras católicas e eu era protestante. Porque aqui no interior não tinha igreja católica, porque meu pai era católico e minha mãe era protestante mas também nunca deu problema nenhum e, uma vez por ano o pastor passava lá na colônia e batizava toda criança que tinha nascido durante o ano lá , e eu entrei nessa leva batizou evangélico. E aí eu tava estudando num colégio católico, de freiras , né,todo mundo católico, lá em Goiás só tinha católico, o único peixe fora d’água era eu. Aí a freira lá, das aulas de religião tal, tem que ser católico ceis {vocês} vão aprender a comungar, ceis{vocês}vão fazer primeira comunhão, depois ceis{vocês} vão pra missa todo domingo se não não vão pro céu e mais isso e isso e aquilo e... Aí todo mundo olhava pra mim assim, coitado do Helmuth só ele que vai pro inferno né? porque ele não é católico. E eu cheguei em casa falei pra minha mãe, ah mãe eu queria ser católico também, né, porque também quero ir pro céu. Ela falou: ‘Procura padrinho aí batiza, pronto’ . Pronto batizei! Com 11 ano, quase 12. Eu batizei na católica, então hoje eu jogo nos dois times eu jogo no Luterano e nos católicos.[risos] E aí eu fiquei católico.Depois fui estudar em Silvania, que é uma cidade entre Anápolis e Goiânia, e num colégio de padres. Estudei 2 anos lá, muito católico, aí eu virei católico fanático mesmo era um salesianos mas foi à melhor escola lá da minha vida porque realmente eles eram muito rígidos, disciplina, educação, comportamento e tudo mais aprendi muita coisa lá. Eu não, meu pai não tinha condições de pagar a escola, mas eles tinham além do colégio, eles tinham uma escola agrícola. Então aqueles que não podiam pagar a escola, o colégio, iam para a escola agrícola e cê {você} vê como nada disso mais existe hoje.E a molecada tinha que trabalhar, meio dia trabalhava na roça e meio dia estudava.Você aprendia, isso não tem mais hoje em dia! É uma pena! Tantas crianças, tantos jovens aí no interior também que poderiam estudar e trabalhar. E com isso eu tava pagando meus estudos. Trabalhava na roça, na enxada, plantando, e tudo mais depois eu passei a trabalhar no jardim deles lá, plantar flores e verduras e tudo mais. Então fiquei 2 anos nesse colégio. Depois voltei prá {para}Anápolis, porque isso era só até o, a admissão, primeiro ginasial aí tinha que ser pago já, e meu pai não podia pagar. Aí eu voltei pra Anápolis, entrei num colégio de padres. Mais como foi logo uns anos depois da guerra, padres tudo americanos e o professor de matemática era um sargento brasileiro. Era contra os nazistas também, tudo que era alemão era nazista aos olhos deles. E enfim eu não consegui passar de ano, isso foi a primeira vez que eu descobri que que é maldade nas pessoas porque eu sempre fui o primeiro, segundo aluno de classe eu num, nem me ufano disso, eu não tinha problema. Mas ele não gostava de mim, ele não ia deixar passar. Me deixou prá segunda época. Ó, segunda época tudo bem, era daí dois meses, estudei em casa isso passa brincando. Aí eu lembro, como fosse hoje, na hora do exame, da segunda época ele me mandou lá na lousa fez uma raiz quadrada, mandou eu desenvolver. Hora que eu peguei o giz, que eu ia escrever ele falou: ‘lá pode sentar você não sabe nada mesmo.’ Era a primeira vez na vida que eu descobri, não foi só _______________da maldade humana, o cara é ruim, porque isso, isso não se faz com uma criança ele podia deixar terminar e dizer não cê {você} errou, não fez bem. Mas... eu vejo eu na frente da lousa querendo escrever e não consegui escrever uma letra, um número. Isso é, é, machuca muito uma criança, aí eu falei pro meu pai; ‘não vou mais estudar’. E nessa época abriu um SENAI lá, abriu um SENAI e eu me inscrevi no SENAI,(35’) eu fui o primeiro aluno lá do SENAI lá de Anápolis ‘G O UM’ chamava o SENAI e aí ficava 3 meses cê {você} tinha que fazer trabalhar com madeira e 3 messes com aço. Pra depois cê {você} escolher o que que cê {você} quer trabalhar, na metalurgia ou então com madeira. Aí eu escolhi metalurgia, só que não tinha curso de mecânica ainda, mecânica como se tem hoje. Mecânico, mecatrônico, e tudo mais. Tinha mecânico de automóvel, falei bom vou ficar no automóvel então né? Eles tinham um fordinho 29 que a gente montava e desmontava ele uma vez por mês [risos], e conhecer todas as peças, como é que funciona o motor, e não sei o que não sei o que lá muito boa a escola. Mas em casa a gente não tinha mais o que comer também. Meu pai já tava novamente na cidade ele não, nunca, nunca morou na cidade, ele trabalhava de ajudante de pedreiro, meus irmãos todos trabalhavam na obra, só tinha um irmão que trabalhava numa oficina. Em casa só tinha fubá e eu quando eu saia do SENAI eu passava no matadouro, eles matavam as vacas que tavam {estavam} pra dar cria, e os bezerros eles jogavam fora a carne do bezerro, então ai de vez em quando, quando matavam uma vaca dessas me dava resto de carne também, e miolo de boi, que ninguém comia então eles abriam a cabeça do boi e me davam o miolo, que é o que a gente comia lá em casa, minha mãe fazia miolo, miolo frito, cozido, assado temperado, empanado, era o que a gente comia né? Ai, faltando seis meses pra {para} me formar eu falei: ‘não, não dá mais’. Não tinha mais como sobreviver, eu vou ter que trabalhar. Ai eu falei com meu irmão, ele arrumou serviço pra {para} mim na oficina lá, fui trabalhar lá, na oficina com ele também. Com catorze pra {para} quinze anos ai eu comecei a trabalhar em oficina né? E já ganhava uns trocadinhos, depois fui, fui prá {para} outra oficina, também lá na, em Anápolis, também. Anápolis tava {estava} crescendo e, mas eu queria trabalhar num torno, torno mecânico. Eles não me deixavam trabalhar no torno, eles colocaram numa plaina. A plaina é muito boa pra trabalhar, pra quem, quem quer ser vagabundo o resto da vida, por que ela fica só prá {para} lá, prá {para} cá, você fica só olhando ela trabalhar assim. Era, era o serviço mais tranqüilo, mas eu falei se eu ficar isso aqui a vida toda não vou ser nada na vida, não aprendo nada! Eles não arrumavam um torno pra mim até que, tinha um irmão meu, também, que era muito atirado, ele falou: ‘Vamo {vamos} embora prá {para} São Paulo’. Eu tinha dezessete anos, né? ‘Vamo {vamos} embora prá {para} São Paulo’. ‘Ah! Então vamo {vamos} embora!’ Aí pegamos nossos paninhos de bunda e viemos embora pra {para} São Paulo. Ai ficamos três dias na estrada, também, de trem, né? Chegamos em São Paulo sem, sem saber nem onde fica, (ficar) né? Ai a primeira noite nós dormimos lá na, no largo São Bento. O largo São Bento, naquele tempo era um largo lá. Vinha o bonde de Santana, lá fazia o retorno lá, e as, tinha uns bancos lá no meio, a gente comprou Diário Popular, na época, se cobriu com o Diário Popular, era janeiro, era muito calor, né? Ai, dormimos lá. Ai no ou, as malas tínhamos deixado na Estação da Luz. Ai, no outro dia pegamos as malas, fomos procurar um lugar. fomos morar lá Ponte Pequena. Numa pensãozinha que tinha lá na Adolfo, Rodolfo Miranda, aí, era nós dois com mais quatro. Era seis num quartinho assim pequenininho, tudo em beliche, ____________ tinha de tudo lá, aquilo fedia, o nego peidava á noite fazia uma, era um negócio feio, mas era o que se tinha que fazer. Fomos procurar serviço. Eu não achava serviço por que tinha dezessete anos e todo mundo falava: ‘você ai ter que servir, depois você começa a servir o exército, não...’ E meu irmão foi trabalhar de encanador, é o que ele sabia fazer. Fazer encanador, eletricista nas obras aí, né? Mas, também era difícil de achar, e eu queria trabalhar de torneiro, mas eu num... Era muito difícil, conhecer São Paulo. Aí comecei. Depois achei serviço lá no Belém, em, foi, foi uma vida muito dura. E depois de três meses acabou o dinheiro, a gente não tinha como pagar a pensão, também, ai meu irmão, meu primo arrumou um lugar pra nós. Ele, ele tinha uma oficina, mecânica, assim de, ele fazia de tudo, coisa assim de solda e tal, lá onde hoje é o, a, o Terminal Tiete. Na, lá, (40’) na cruzeiro do Sul. Já chamava Cruzeiro do Sul, naquele tempo! Mas era tudo um brejão aquilo lá. Era tudo... Aquilo, criava-se vaca, cavalo e tudo mais. Que terminal coisa nenhuma. E lá ele arrumou prá {para} nós um quartinho na oficina dele assim de madeira também, então prá {para} gente se enfiar lá dentro, que é tipo uma favela, a gente ficou morando lá um ano que não precisava pagar aluguel né? Ele colocou uma mulher que cuidava lá também, pra {para} ela cozinhar pra {para} gente e que depois a gente acertava quando tivesse emprego, e assim foi. Nós, depois arrumei um emprego lá perto mesmo, na Rua da Coroa. Comecei a trabalhar, pegava da seis da manhã até dez da noite, todo o dia. Na sexta feira pegava às seis da manhã ia até no do.., o sábado a tarde, ás 4 horas. Ai comecei a ganhar dinheiro. Que aí começou a entrar dinheiro, mas continuávamos morando naquele “muquifo”, lá. Meu irmão, eu, depois veio mais um irmão lá, então estávamos os três lá. E, eu não era mecânico, não era eletricista, não era torneiro não era coisa nenhuma. Quando eu, quem arrumou foi meu primo. Eu devo muito às pessoas que me ajudaram na vida. Muita gente me ajudou. E meu primo me ajudou, por que eles não iam me empregar. Eles tavam {estavam} procurando um torneiro e eu era ____________ molecão a dizer que quer trabalhar, ai meu primo falou: ‘Não, aí, tem boa vontade deixa ele trabalhar, ela vai..’. Por que, paquímetros, sabia ler; micrometro, sabia ler. Eu tinha de conhecimento do Senai, ainda né? Mas nunca tinha trabalhado numa máquina. Aí quando cheguei lá eram os italianos brabos! Essa firma existe até hoje, lá onde morei. Não ta {está} mais lá mas tá {está} no interior, um dia até vi ela. E, ele me encostou no torno... O Torno era grande prá {para} burro né? Ai ele falou: ‘Ah, pode tornear essa peça aqui..’ ‘ Tô {estou} ficando... Agora to {estou} perdido! Não sei nem onde ligar o torno, né?’ Aí fiquei olhando pro {para} o torno assim, ele chegou “ni” {em} mim: ‘Não sabe trabalhar não né? Cê {Você} não conhece esse torno?’ Eu falei: Não conheço esse torno... Tava {estava} acostumado no outro, agora não sei por.. Ai ele falou: ‘Então, aqui é..’. Era produção, não era difícil. Fazia uns eixos de trator, eram de peças de trator. ‘Oh, você prende aqui, vai até esse ponto com a ferramenta, quando chega aqui ele vai desligar sozinho. Ai cê {você} tira, põe outra peça e faz e tal...’ Bom, não teve dúvida, era só puxar a alavanca prá {para} baixo, deixar o negócio correr, entende? A trocar a ferramenta, tinha alguém que trocava, né? Aí comecei a trabalhar lá. Ganhei bem dinheiro. Ganhava. Ganhava bem. Eles pagavam hora extra, tal, aquela coisa toda. E a gente depois de um ano, um ano e pouco a gente saiu daquele “muquifo” também. Aí fomos morar na Alfredo Pujol, lá em Santana. Ai, já tínhamos um, um, aí tinha um apartamentozinho, era um banheiro e um quartão grandão assim, não tinha mais nada né? Ah! mas saiu daquele buraco lá. Cê {você} ter uma idéia como a gente era, era ruim de serviço. Hoje em dia cê {você} tem tudo desde pequeno, eu nunca tinha tomado banho de chuveiro, que lá em Goiás não tinha chuveiro, era tudo na bacia! Água era do poço. E ai tinha o chuveiro, e eu não sabia que existia o chuveiro elétrico. Tomava banho frio todo o dia. 1956! Rapaz! Dá uma olhada, vê o frio que fez aquele ano! Que desgraça é tomar banho gelado, viu? Como eu sofria. Cê {você} uma bobagenzinha dessa. Hoje em dia cê {você} coloca um chuveiro elétrico lá, né? E tinha lugar prá {para} colocar chuveiro elétrico, mas eu não sabia que existia esse negócio, né? A gente não sabe, a gente vem lá dos cafundó do Judas, cê (você) não sabe de nada. Cê {você}tem que... né? Aí o, ficamos lá (...) e nós não sabíamos o que, e a minha formação, eu falava alemão, meus dois irmão faziam música, é... Tocavam bandolim, aquilo um tocava violino, sanfona, tocavam tudo. Minha mãe sempre tocou. Quando morávamos em Goiás, na roça, contei antes, à noite a gente sentava lá e minha mãe tocava violão, cantava, meu pai tocava violão também, todos nós canta, os outros irmãos tocava bandolim. A gente, toda à noite se encontrava sentava lá fora. O céu de Goiás é muito lindo. É calor! Então a gente sentava lá fora e fazia música. Não tinha televisão, não tinha rádio, não tinha luz elétrica, não tinha nada. Então eu aprendi muitas músicas alemãs antigas. (45’02”) Coisas que, num, ninguém, os alemão de hoje não conhecem mais. A maioria nem conhece mais, os lá da Alemanha também. Hoje em dia é “tecno” e por aí a fora e num conhece essas musicas. São músicas muito bonitas que a minha mãe me ensinou. (pausa) E, bom...
Pergunta:
Você sabe cantar alguma?
Resposta:
Hein?
Pergunta:
Você sabe cantar alguma?
Resposta:
Não! Cantar eu não canto não, mas eu tenho todas elas. Eu montei um álbum, por que hoje quando eu faço as viagens, eu levo o meu instrumento, o meu bandolim, e eu toco a noite quando a gente se reúne no hotel, alguma coisa assim, a maioria fala alemão, o pessoal de idade que tá {está} comigo, conhece essas músicas, então eu toco essas músicas e eles cantam e eu tenho elas, também, as músicas, pra {para} eles canta {cantam}. É muito gostoso quando nós viajamos fazemos esses encontros à noite assim. Eles adoram! São as senhoras de idade também, tem a minha idade, eles também conhecem essas música. Aí, chegava o domingo, não tinha o que fazer da vida. No outro dia a gente não tinha, que {o que} que nós faziamos? A gente ía lá na Estação da Luz. E naquele tempo já não era muito sagrado né? Por que o inferninho era, era Rua Aurora, ai até o Jânio {Jânio Quadros} acabar com a prostituição aqui, o local da prostituição. Ele espalhou por São Paulo. Por que naquele tempo era tudo concentrado lá. Aí falou que não podia ter mais, agora vai ter por todo o lado. E nós íamos lá, passavamos lá, de vez em quando tinha um dinheirinho, pegava o trem suburbano, ia até, até Mairinque, voltava de novo e era nossa diversão de domingo. Mas o ambiente não era, não era tão perdido como hoje, mas mesmo assim já era meio, né? Aí minha mãe numa dessas, minha mãe veio de Goiás e viu a gente lá e é por isso que eu acho que a mãe é uma coisa impressionante, né? E ela conviveu com a gente, lá uns dias, na, na nosso quarto aí ela falou: ‘o que vocês fazem no domingo?’ A gente vai, lá, tal e patati patata. Ela falou: ‘é mas eu não, eu não criei meus filhos prá ficarem agora no meio do nada!Vocês tem uma cultura atrás de vocês, ceis {vocês} tem que avançar. Agora nesse meio que vocêis {vocês} estão vivendo! Sem chance!’ E agora você faz uma idéia do que que era! Aí começa minha participação na colônia alemã. Porque até aí eu não tinha contato com alemão praticamente. Lá em Goiás tinha, porque, tinha aqueles alemão perdido da guerra, também tavam {estavam} lá fazia muita música. Em casa sempre se fez muita música. E se dançava tal, mas era só o quer dizer... Eu lia, eu aprendi ler o alemão porque quando eu morava no sítio lá em Goiás eu tava {estava} estudando português mas eu queria ler eu não tinha, não tinha leitura, eu ganhava livro, eu não tinha nada e meu pai assinava um jornal alemão. Então, esse jornal alemão quando chegava eu lia ele de cabo a rabo em alemão, embora eu não soubesse ler muito bem mas eu tava aprendendo o português, então como falava alemão eu começava a ler em voz alta. Não que eu quisesse aprender. Eu tinha o costume de sentar e ficar lendo em voz alta, e eu sei o quanto isso me ajudou! Então eu aprendi ler alemão. E meu pai tinha uns livros bem antigos ainda que eram aquele alemão, um alemão diferente, me fugiu o nome agora, não é a letra latina não, ela é, é bem rabiscada...
Pergunta:
Gótica?
Resposta:
Gótica, exatamente! O alemão gótico. Eu comecei ler aquele negócio lá, eu li o livro ---------(Hanstab) que deve ser algum _____________ antes que algum deve ter ouvido falar foi o primeiro alemão que aportou aqui em São Vicente, foi feito prisioneiro pelos Tamoios. Eu de tanta vont e as história de _____(Green) né, ele tinha também era tudo alemão gótico. Li tudo! E aprendi ler aquilo lá, eu não sei escrever o gótico, eu não sei escrever, mas ler eu não tinha dificuldade nenhuma. E alemão também não tenho problema nenhum. Tanto é que eu to {estou} lendo o livro em alemão eu gosto de ler alemão do que em português, por que a tradução para o português a gente sente que não é muito boa. Quando é um autor brasileiro, é gostoso de ler mas, quando você tem tradução é raramente cê {você } consegue ter uma tradução boa. E, ai eu li os livros alemães que são de autores alemães, ou do inglês para o alemão que é uma tradução sempre muito bem feita. Bom, enfim era a minha, o que eu tinha de cultura fora isso não tinha mais nada.(50’)E minha mãe, embora ela saiu, saiu da Europa com treze anos, mas ela tinha uma formação muito boa, uma escola muito, muito, excepcional. E, uma letra bonita, ela falava um alemão perfeito, tanto é que eu falo o alemão clássico eu não falo, eu não tenho é, não falo alemão regional não. Meu pai falava o regional, mas minha mãe era muito maior o contato, tanto é que eu vou pra {para} Alemanha, o pessoal lá não consegue descobrir de onde que eu sou, por que eu não tenho nenhum ass.. éééé, flexão na minha voz, no meu alemão. E o meu alemão, hoje que eu tenho, hoje é perfeito, né? E, ai, quando minha mãe falou: Eu tenho aqui uma amiga, que eu sei que está aqui! Que era vizinha nossa, a família era vizinha nossa, no interior de São Paulo, e minha mãe fazia música com o marido dela, ele tocava violino minha mãe violão. E, essa família foi para a Alemanha, ele morreu na guerra, e essa senhora tinha voltado com as três filhas, para o Brasil, e estava em São Paulo, minha mãe não sabia onde. Ela fuçou, virou, mexeu, descobriu que eles tavam {estavam} é, ela tinha casado com um primo do falecido marido dela e estavam cuidando da Igreja Luterana, lá no Centro, da Rio Branco. Rio Brando 34, né? E, ele era zelador lá da igreja. Minha mãe descobriu ela. Minha mãe foi lá, enquanto ela tava aqui. As três meninas tocavam, faziam música Tocavam bandolim, violi.. bandolim. E uma tocava violão. Aí, ela (...), um dia ela falou pra {para} nós três: ‘domingo à tarde, agora, nós vamos visitar a tia.’ E lá vai nós três, com minha mãe. E chegamos lá, no dia dois de outubro de 1956. Sentamos lá, as três moças eram bem mais saídas , é por que os homens... Nós vinha {vínhamos} de Goiás, era matuto que só né? Aí, elas fizeram música junto com minha mãe, que já tocava violão ai, de, meus irmãos dé, tinha uns bandolins lá: “Vocês vão tocar também”, meus dois irmãos tocavam né? Tocavam por ouvido, não tocava por nota, ai meio sem jeito, tocaram um pouquinho. Aí, uma delas, que você conhece, pôs o bandolim no meu colo ”Cê {você} vai tocar também”. Falei: ‘[resmungo] Cê (você) ta ficando doida! Eu vou tocar bandolim! Nunca na vida! Né?’ Ela até hoje ela tira o sarro de mim, diz quando se lembra de mim, da cara que eu fiz quando puseram o instrumento na minha e, meu colo, porque eu não tocava né? Aí, (...), não, não. Vamo {Vamos} te ensinar, cê {você} vem aqui uma vez por semana nós vamos te ensinar, partitura, notas e tudo mais, (...), e aquela que senta na minha frente hoje, quando eu tô {estou} lá em cima de cabelo branco. Ela nem tem vindo as últimas vezes. Que ela mora lá em Santos. Lá em Peruibe. E a irmã dela é aquela que senta do meu lado. Eu tinha dezessete anos e ela tinha treze anos. Aí você viu o que que vai dar, né? Claro que eu me apaixonei logo, né? E, Éramos os três irmãos e as três irmãs, e elas passaram a nos ensinar partitura da nota e me ensinaram um instrumento também. Dia 2 de outubro de 1956 que nasceu a orquestra de bandolins, daí que nasceu essa orquestra de bandolins que você hoje já sofreu pra {para} escutar ela alguma vez aí, né. Foi, foi muito... e aí que eu entrei na sociedade alemã de São Paulo, porque elas participavam da juventude Luterana.Que era lá na Oscar Porto lá no Paraíso e se reuniam todo sábado lá, tinha 120 jovens pra {para}você ter uma idéia. Aí minha... aí elas nos convidaram prá {para} gente ir lá também e a gente acabou indo lá de vez em quando e nós tamos{estamos} aprendendo a tocar bandolim e certa data nós, nós nos apresentamos lá na juventude luterana aí nós já tocando, musiquinha simples que é o que a gente tinha aprendido.E já era o grupo de bandolins, eles não chamavam de orquestra, chamavam o grupo de bandolins. Éramos seis , as três moças , as três estão ainda até hoje aí tocando, uma que vem de Sorocaba,(55’) aquela que você colou a ____(Frida) que você conversou com ela é uma delas as irmãs. Ela deve ter contado pra você e as outras duas e eu.Que meus irmãos casaram de trás pra frente ficaram noivos, casaram saíram e já faleceram todos também. Então nós quatro somos os fundadores da orquestra de bandolins, nós quatro estamos aí, não sei quanto tempo mas estamos nos esforçando. Com isso eu acabei entrando na sociedade alemã porque aí eu encontrei mais pessoas jovens que falavam alemão. E me dava bem com eles e tudo mais. E um dia um rapaz falou pra mim que eu... eu morava nessa altura, já tinha saído, lá da Santana tinha, tava morando.. aí mandamo {mandamos} vim nossos pais passamos a morar na vila Guilherme, da vila Guilherme viemo {viemos} para Santo Amaro, passamos a morar no Alto da Boa Vista e pegava o bonde lá no Paraíso e descia aqui em cima na rua da Paz. E eu morava, na, na, naquela principal que desce, me fugiu até o nome agora, Américo Brasiliense. Eu morava lá embaixo. Pinheiros era só aquele riozinho lá no meio, não tinha nada, só tinha cavalo e coisa lá andando. Aí um rapaz dentro do bonde, ele falou pra mim: ‘Óh, você, cê {você} ta {está} si dando lá mais ou menos, mais eu tenho um grupo melhor que cê vai se dar melhor com eles ainda, é Sociedade Cultural 25 de julho’. Que, que é? Nós somos um grupo de mais ou menos uns 120 jovens que não era da Luterana, não era políticos nem religiosos não tinha nada, que se encontravam no, no, no, sítio das Figueiras. O Sítio das Figueiras , se você conhece, você não deve conhecer Santo Amaro, é onde é o Sesi hoje, hoje é o Sesi lá.Que já passou tudo. Se encontravam todo sábado. Falou ‘Você vai lá, cê {você}vai gostar’. E lá era cultural, então eu passei a ir lá e me entrosar com os jovens e aí tinha muita literatura. Quando alguém fazia uma viagem, naquele tempo, quando ele voltava, ele fazia uma exposição sobre a viagem que ele fez! Contando, só contando já era um negócio! Ou, então, ficava: “próxima reunião nós vamos falar sobre esse livro aqui.” Então você levava o livro, lia e na próxima vez você contava a história do livro, assim resumindo, tal. Se cantava muito, se fazia muita música, se acampava, íamos prá praia, se fazia festa de natal, festa de, de, então era, aí foi dentro do espírito alemão mesmo, eram bem alemães. Onde que eu me formei também, acabei me formando e acabei encontrando uma moça um dia, que eu namorei e casei. Casei lá também com uma moça que vinha lá, que foi minha falecida esposa. E esse, essa, essa entidade ela não existe mais em São Paulo. Ela existe no sul. No sul cê {você} vai praticamente toda cidade Santa Catarina e Rio Grande do sul, até no Paraná, muitas cidades do Paraná também você encontra essa 25 de julho. 25 de julho por quê? De 25 de julho de 1824 foi dia da imigração alemã no Brasil. Então passou-se a falar 25 de julho . Eles falam dia do colono, dia do São Cristovão, mas é o dia da imigração alemã no Brasil. A primeira imigração foi em São Leopoldo, no Rio grande do Sul, né? Quem trouxe foi a Leopoldina, acho que te contei uma vez. Ah, ah, (pausa) a princesa não, ela era...
Pergunta:
Imperatriz?
Resposta:
Imperatriz. Ela era imperatriz Leopoldina, e ela era Austríaca. Ela trouxe os primeiros alemães, colocou lá em baixo e Leopoldina, passou a chamar São Leopoldo. Por isso que chama São Leopoldo. E... Mas eu aprendi muito, em mil novecentos e... (pausa) sessenta e um, eu fiz a primeira viagem, aí já tava (estava) trabalhando, ai eu saí, eu trabalhava lá, em Santana depois comecei a trabalhar aqui em Santo Amaro, ( 1h) depois fui pra {para} MWM, que era na Marginal, depois eu fui pra {para} rolamentos Schefla, fiquei até o fim, até aposentar, fiquei trinta e dois anos. E tinha um alemão que queria conhecer, queria viajar, aí eu tinha trinta dias de férias, aí pegamos o ônibus e fomos pro {para o} sul, mas sem conhe... Só de mochila ne? Só, parando aqui, pegando carona, fomo {fomos} primeira, primeiro dia foi prá {para} Curitiba, depois de Curitiba, descemos prá {para} Guaratuba, Joinville, e por ai a fora. Pomerode. Pomerode era a cidade mais alemã da época, todo mundo falava alemão. Em todo o lugar que eu chegava sem conhecer. Olha, eu quero saber onde tem um 25 de julho. A gente falava só 25 de julho. Ah! O 25 de julho é lá na frente _____________. Ia lá, se apresentava, é do 25 de julho de São Paulo, era recebido, ficava na casa do pessoal.Nunca fiquei em hotel nenhum. Era, era, a gente era fantástico né? E foi, foi, foi passei, cheguei a ser presidente dessa entidade mais tarde, mas acabou o interesse, dos jovens né? E tá {está} cada vez pior. Os jovens aí foram estudar, trabalhar e a vida foi levando eles também e os novos já não vinham mais, naquele tempo tinha muitos, porque muitos tinham os país vindo da Alemanha, depois da guerra muitos imigraram para o Brasil e trouxeram uma molecada junto e esses jovens ainda tavam {estavam} ai hoje tão {estão} todos aí com a gente, mas na minha idade já, né? O que vem atrás, já não se interessa por esta questão e chamava Sociedade Cultural 25 de julho porque a gente, nosso lema era (...) ’Em memória de nossos pais (...) __(oszefeit)’, ‘em memória de nossos..’. eu sei em alemão to tentando traduzir “Em memória de nossos pais você tem que... se você não tem passado, você não tem futuro também. Cê {você} tem que honrar o passado de onde seu pai veio porque ele que te deu educação.’ Em memória de nossos pais, para nos ensinar, para o nosso ensinamento, para o bem da nossa Pátria Brasil” Esse era o lema dessas, dessa entidade. È até hoje. Então a gente tinha que, tem que aprender tudo o que meus pais trouxeram lá de outros, outras terras, que o Brasil ainda era, e ainda é um pouco subdesenvolvido, tudo que eles pudessem trazer eu absorver e aplicar aqui nessa terra, porque essa é minha pátria, minha pátria é o Brasil, não é a Alemanha! E todo bem que eu puder implantar aqui eu vou implantar, eu vou trazer...e aí... Essa é a parte cultural, a parte profissional como eu entrei mesmo, na,na,nos,na alemãs foi mais os últimos anos, mas eu tenho, foi só uma passagem porque eu tava na MWM, é na MWM, e aí a Rolamentos Chefa do Brasil, você não ouviu falar, ainda hoje se chama Ina, talvez já tenha ouvido falar, Rolamentos Ina. Tem a Fague, tem a Ina, mas a Ina comprou a Fague sua empresa hoje tem 5 mil e poucos funcionários, é em Sorocaba. Em 1959 eles vieram para o Brasil, junto com a Volkswagem , a Volkswagem exigiu que as empresas fornecedoras viessem também para o Brasil, então eles tiveram que vim queira ou não queira. Eles se instalaram em Santo Amaro e precisavam de pessoas, para trabalhar. Acharam lá, retificador, torneiro e tudo mais, e meu irmão já também achou emprego lá e tava trabalhando de torneiro. Aí eles,precisavam de retificador. Eu já tinha trabalhado de retífica em outras firmas já antes. Porque na minha escola eu não aprendi nada eu não, não estudei nada eu aprendia só trabalhando, trabalhava um ano numa firma, numa máquina e aprendia o jeitão, e já ia pra outra firma e trabalhava noutra e enquanto estivesse aprendendo tudo bem. Aí, chegaram, mandaram avisar meu irmão que precisavam de um retificador. Eu falei: ‘Bom, retificador eu já trabalhei, não vou mais trabalhar eu vou voltar pro torno’.Eu queria trabalhar no torno. Fui lá falei com o alemão o alemão falou: ‘Não, torneiro não, eu preciso de um retificador eu tenho 5 máquinas aqui, e não tem um retificador. Eu fui já, eu também eu já fui meter as caras lá e estourei o rebolo não... eu preciso de alguém que entenda dessas máquinas’. Eu não entendia nada também, né, era um fuçador, né. Entendia pro {para o} gasto, dizer que era o expert não era não. E aí ele falou: ‘Não cê {você} vem trabalhar aqui’. Pro cê {você} ter uma idéia eu ganhava, na... MWM na época 24 e qualquer coisa era cruzeiro, era não sei nem quanto era. Ele falou: ‘Vou te pagar 30 cruzeiros por hora’. Bom, era um bom aumento. Eu falei: ‘Deixa eu pensar um pouquinho’. Aí passou mais uns tempo, eu voltei lá na MWM. medo ainda também de sair da firma e num... falei: ‘Não, não venho não’. Ele veio com novo recado, vou te pagar 35. Aí eu balancei, falei: ‘então eu venho’. Vou ganhar... Fui lá na, MWM. aí a MWM. falou: ‘Não, não, não deixo você sair não, vou te pagar 40 reais, 40 cruzeiros’ na época ou coisa assim. De 35... Eu tava ganhando 24 fui pra 40! . Ah! Falei, então já vou ficar aqui mesmo. Já dei recado aqui pra {para} rolamentos que não venho. Ele mandou chamar de novo, falou: ‘Você vai trabalhar aqui!’ Eu não esqueço nunca,o que ele falou, eu não era escravo, ‘Vou te comprar! Cê {você} vai trabalhar aqui, vou te pagar 50 cruzeiros’, na época. Dobrou meu salário. Sem sair do lugar os cara dobraram meu salário. Eu falei: ‘Nossa Senhora!’ Ai eu voltei lá e pedia a conta de novo. Aí, ficaram muito brabo comigo, né? Claro! Como eu ficava brabo, quando eu fui chefe também, né? Aí, eu vim trabalhar aqui na rolamentos e foi a maior escola da minha vida, por que ele era um alemão, era o chefe, ele sabia de tudo e conhecia... era na ferramentaria, ele conhecia tudo e eu conhecia também, sabia alguma coisa porque ________ eu já tinha rodado em firmas, tudo bem, mas não era um “expert”. Eu não tinha nunca aprendido numa escola, né? Aí ele passou, eu era o que falava alemão lá dentro. Eu fui o sexto funcionário, cê {você} vê que hoje tem cinco mil, né? Eu fui o sexto funcionário da empresa, aí os outros eram tudo brasileiros, aí quando ele queria dar uma ordem, ele me chamava pra {para} eu mandar a ordem prá {para} ele. Ele que fazia, fazia só português. Um era retificador, outro era fresador, outro era torneiro, outro era não sei que. Eu tinha que passar ordem prá (para) ele. Eu dava ordem e quando tinha um problema ele falava comigo em português, eu perguntava em alemão, o alemão respondia... Se você não é burro de tudo, alguma coisa fica na cabeça. Mesmo sem eu executar o serviço, mas ass...A duvida dele era minha dúvida também. Você esclarecia a dúvida em alemão eu passava o português, e passava pra {para} ele em portu... Bom, alguma coisa fica né? Alguma coisa cê {você} aprende, ainda mais naquela idade entre, eu tinha 21 anos, 22 anos assim se aprende tudo. E, aprendi muita coisa. Esse alemão ficou dois anos aqui e eu traduzindo tudo prá {para} ele, tal. Aprendi muita coisa mesmo! Ai um dia ele chegou ni mim {em mim}, perto do fim dos dois anos já, me jogou um monte de desenhos assim, e falou: ‘Olha, executa tudo esse negócio aí, faz esse dispositivo aí!.’ Nossa Senhora! O negócio tava (estava) em alemão. Tudo escrito em alemão né? Tinha palavras que eu tinha dificuldade de ler por que era tão cumprido, com tanta .... tanta consoante que falei ‘ Ah não!!’ Não sei nem que que é isso, né? Mas mandou eu fazer. Eu recebi todos os desenhos, arrumei todo o material. Naquele tempo cê {você} tinha que correr atrás do material. Pegar um ferro aqui, um aço lá, tal.... Tinha que temperar no maçarico, aí tinha que fresar, tornear, plainar. Eu fazia tudo, fazia de noite ficava até as dez horas, todo o dia a noite também né? E fal